O Dinossauro

“Cuando despertó, el dinosaurio todavía estaba allí.” / "Quando despertou, o dinossauro ainda estava lá".



Apesar de ter uma extensão de exatamente sete palavras, “El dinosaurio”, de Augusto Monterroso, é um dos textos mais estudados, citados, resenhados e parodiados na história da palavra escrita.
 
Este miniconto suscitou uma grande diversidade de reflexões, seja como motivo literário, ou como motivo acadêmico, ou como motivo de reflexão política. Neste último sentido, a imagem do dinossauro foi identificada no México com esse personagem indiferente e calculador que todos conhecemos na vida cotidiana, que vive do tráfico de influência e que é uma herança da cultura política mais antiga e primitiva.

No sentido literário, “El dinosaurio” foi objeto de variações e ensaios nos quais o texto é tomado como referência inicial para a criação de diversos jogos. Estas variações incluem versões poéticas, continuações do texto, metacontos e outras variantes a partir do tema proposto por Monterroso.

No sentido acadêmico, o miniconto serviu de estudo para tentar entender a(s) razão(ões) pela(s) qual(quais) ele persiste na memória coletiva. Alguns  trabalhos dedicados à sua análise, destacaram dez elementos literários indicados como os motivos da façanha:

1 – A eleição de tempo gramatical que evoca uma forte tensão narrativa;

2 – Uma estrutura sintática equilibrada (alternando três advérbios e dois verbos);

3 – O valor metafórico de um ser real, porém extinto (os dinossauros) e a força evocativa subtextual do sonho (quando acordou);

4 – A ambiguidade semântica (Quem acordou? Onde é lá);

5 – A referência simultânea ao gênero fantástico (um dos mais imaginativos), ao gênero de terror (um dos mais antigos) e ao gênero policial (à maneira de uma adivinhação);

6 – A possibilidade de ampliação deste miniconto para um conto de extensão convencional (ao início ou ao final);

7 – A presença de uma cadência quase poética (contém um hendecassílabo, ao menos no original em castelhano), uma estrutura gramatical maleável (ante qualquer aforismo);

8 – A possibilidade de ser lido indistintamente como miniconto (convencional e fechado) ou como microrrelato (moderno ou pós-moderno, com mais de uma interpretação possível);

9 – A condensação de vários elementos cinematográficos (elipses, sonho, terror) e,
 
10 – A riqueza de suas ressonâncias alegóricas (kafkianas, apocalípticas ou políticas).